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coruche à mão

preservar memória / criar valor

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METAIS - LATOARIA, FERREIROS, RECORTES EM ZINCO E LATÃO, ESCULTURA - OBJETOS DECORATIVOS

Latoaria

A latoaria / funilaria é um ofício em que o artesão produz e repara artefatos em metal. Os metais utilizados são a folha de flandres, chapa zincada entre outras.  A produção artesanal tradicional privilegiava  noutros tempos que não conheciam a eletricidade e o plástico, peças utilitárias  como por exemplo: lampiões e lamparinas para alumiar, almotolias para o azeite, funis para enchidos, cântaros para o vinho ou o leite.  Hoje as peças têm um carácter mais decorativo.

 

“Relatou Heraldo Bento que vários foram os latoeiros / funileiros e aprendizes destes ofícios em Coruche,  meados do século XX, nomeadamente: Francisco da Palmira; Antónia Frade (proprietária de uma oficina de latoaria); Lopes; José Simões; João Abrantes e José Anselmo da Cruz Júnior. 

Atualmente não existe ninguém no concelho de Coruche a praticar a atividade de latoeiro/funileiro. 

Não nos foi possível localizar peças dos artesãos acima mencionados, com exceção de José Anselmo da Cruz Júnior, do qual recolhemos alguns dados biográficos, junto de um familiar e da Conservatória do Registo Civil de Coruche, e registámos em fotografia (fotografo Nuno Capaz) algumas peças decorativas/úteis, que ainda é possível encontrar nas casas de alguns Coruchenses.”

 

Esquiço biográfico

 

José Anselmo da Cruz Júnior, conhecido por Zé Russo, nasceu nas primeiras décadas do século XX, 1921, em Coruche.

Em 1955 foi ao encontro de um irmão em Lisboa e instalou-se no bairro da Mouraria na atividade de latoeiro, trabalhando por conta de outrem.

Como os amores não foram de feição regressou a Coruche, onde se instalou, inicialmente na Rua Júlio Maria de Sousa e mais tarde na Travª do Monteiro e, aí continuou a desenvolver atividade executando lanternas, molduras de espelhos, apliques entre outras. Peças, portanto, que acumulavam dupla função, úteis e decorativas. As cores que predominavam eram essencialmente o verde seco, o bordeaux e o dourado, tons que estiveram em moda nos anos 70/80, considerando a sua integração em ambientes de casa clássicos e urbanos, não obstante o contexto de ruralidade que nos assiste.

Fontes: Fatela, Paulo – Mão com Alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche, edição Associação da Charneca Ribatejana, 2014, pág. 171.

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Autor: José Russo

Designação: Aplique

Material: Folha de flandres

Dimensão: 0,40m x 0,15m

Fotógrafo: Nuno Capaz

 

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Autor: José Russo

Designação: Espelho com apliques

Material: Folha de flandres

Dimensão: 0,50m x 0,40m

Fotógrafo: Nuno Capaz

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Autor: José Russo

Designação: Espelho

Material: Folha de flandres

Dimensão: 1,20m x 0,90m

Fotógrafo: Nuno Capaz

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Autor: José Russo

Designação: Lanterna

Material: Folha de flandres

Dimensão: 0,25m x 0,20m

Fotógrafo: Nuno Capaz

 

 

 

 

 

BARRO - OLARIA, CERÂMICA FIGURATIVA

A memória de Maria de Jesus  Sousa Quintas, filha do oleiro António Cipriano Rodrigues Quintas, remete-nos para a olaria do seu bisavô: José Evaristo de Sousa, situada em Santo Antonino, o qual teria iniciado ativividade provavelmente em 1850.

José Evaristo de Sousa teve três filhos homens: Guilherme, José e António, que também lhe seguira o gosto pela olaria, tendo constituído as suas próprias oficinas, criando inclusive vários postos de trabalho.

As olarias de Guilherme e José desenvolveram-se, após as suas mortes. A olaria de António esteve em atividade durante décadas tendo sido vários os artesãos que por lá passaram: Afonso de Sousa; Manuel Maia; António Quintas; “Chico Doutor” (alcunha pelo facto de se vestir bem); João Mesquita; Américo; Amadeu; Canhoto (alcunha pelo facto de ser de Canha); Jacinto; José da Justa e outros.

As suas peças eram vendidas numa loja no Mercado Municipal de Coruche por Maria Guilhermina, mulher de António. As produções eram sobretudo peças úteis, alguidares usados nas matanças dos porcos ou também para lavar roupa, ânforas para armazenar alimentos constituem alguns exemplos.

A tradição das olarias em Coruche perdeu-se; o oleiro António Cipriano Rodrigues Quintas foi o último a desenvolver atividade profissional nessa área e apenas Afonso Sousa (reformado) até há pouco tempo produzia algumas peças para ocupar o seu tempo.

 

 Fonte: Fatela, Paulo – Mão com Alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche, edição Associação da Charneca Ribatejana, 2014, pág. 106

 

Publico algumas fotos de peças outrora produzias e esquiços biográficos dos seus autores, hoje o enfoque recai para Carlos Casimiro Marques e António Cipriano Rodrigues Quintas.

Carlos Casimiro Maques (Carlos Marques) nasceu em 1921, em Coruche. Iniciou a sua atividade numa olaria situada na Travessa Fonte do Grilo – Coruche, do “Carlos oleiro”. Mais tarde trabalhou numa olaria em Lavre, cerca de dois anos, sendo que regressa a Coruche e estabelece-se por conta própria, inclusivamente com um ponto de venda no Mercado de Coruche.

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Designação: Bilha para àgua

Material: Barro

Dimensão: o,29m x 0,19m

Créditos fotográficos: José Fatela 

 

António Cipriano Rodrigues Quintas (António Quintas) nasceu em 1926, em Marinhais.

Quintas começou como aprendiz de oleiro muito novo, logo após ter terminado a escola primária, tal como quase todos os da sua geração.

Aprendeu a profissão com o oleiro Barroca que era proprietário de uma oficina na Fajarda. Depois de casado e perto do nascimento da sua segunda filha decidiu trabalhar na olaria do sogro: António Evaristo de Sousa.

Após a morte do sogro, em 1974, passou a desenvolver atividade individualmente, tendo mais tarde aberto uma loja na travessa do Lagar em Coruche, para venda das suas peças, com a colaboração da sua mulher Laurinda Quintas. Comercializava as peças na tradicional Feira de São Miguel em Coruche, teve inúmeras participações nas Festas em honra de Nª Sr.ª do Castelo (exposições e cortejo etnográfico), colaborou com as escolas do ensino básico sob forma de permitir visitas à sua olaria e dando informações aos alunos e professores.

As mostras das suas peças não aconteceram somente a nível de Coruche, mas também um pouco por todo o país.

Em 1999 Quintas foi convidado pela Câmara Municipal Coruche a ocupar um atelier no Museu Municipal, e ai desenvolver ativiade permitindo dessa forma o desenvolvimento de atividades pedagógicas.

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Designação: Saladeiras

Material: Barro vidrado

Dimensão: Diâmetro - 0,32m, 0,27, 0,20m

 Créditos fotográficos: Nuno Capaz

 

Fonte: Fatela, Paulo – Mão com Alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche, edição Associação da Charneca Ribatejana, 2014, págs 12 e 15