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coruche à mão

preservar memória / criar valor

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FIOS - LINHO, ALGODÃO, LÃ e OUTROS

Há algumas bordadeiras em Coruche que desenvolveram e desenvolvem diversas peças com bainhas abertas, hoje ilustro a referência a este trabalho artesanal com peças da artesã Loudes Sousa.

 

Bainhas abertas

As bainhas abertas constituem um trabalho em que se retiram fios ao tecido.

Há que referira a existência de dois pontos: o ponto a direito e o ponto cruzado. Com estas designações pretende-se colocar em evidência o facto de no ponto a direito se manipularem conjuntos de fios que são os mesmos que correm de cima a baixo do trabalho. No ponto cruzado, tal não acontece e o trabalho parece feito em viés ou na diagonal, conforme é referido por algumas bordadeira.

As bainhas abertas constituem uma técnica, que sobretudo valoriza toalhas e lençóis, embora desde sempre, tenha sido usada num contexto decorativo mais amplo. De há algum tempo a esta parte têm tido diversas aplicabilidades, nomeadamente em peças como cortinas ou cortinados.

Fonte: Fatela, Paulo – Mão com Alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche, edição Associação da Charneca Ribatejana, 2014, pág 57

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Bordadeira:Lourdes Sousa

Designação: Naperon

Bainhas abertas 

Dimensão: 1.10m x 0,65m

Créditos fotográficos: Hélder Roque

 

20100717 Toalhas HR (7).jpg

Bordadeira: Lourdes Sousa

Designação: Toalha de rosto

Bainhas abertas 

Dimensão: 1,50m x 0,77m

Créditos fotográficos: Hélder Roque

 

 

FIOS - LINHO, ALGODÃO, LÃ e OUTROS

TECELAGEM

A visada neste post é uma daquelas artesãs que me faz lamentar o facto de eu não ter estrutura para a apoiar e incentivar a continuidade da sua arte, tudo me leva a crer que Lourdes Sousa faz parte do grupo "Os últimos artesãos de Coruche". Contudo não está no âmbito do Coruche à mão fazer análise relativamente ao desaparecimento, em Coruche, destas artes milenáres. Assim sendo,  fica aqui o registo de alguns que fizeram percurso, no caso em tecelagem.

Hoje reporto um esquiço biográfico de Lourdes Sousa e duas peças por ela produzidas:

 

"Maria de Lourdes Luís de Sousa (Lourdes (Sousa) nasceu em 1968, em Santarém.

Foi em Coruche que cresceu, passou a adolescência e parte da vida adulta. Fez formação na área do artesanato, no Instituto Ricardo Espírito Santo nos anos de 1992 e 1993 e no CEARTE de 1994 a 1997.

Em 2002, por razões familiares, optou por mudar a sua residência de Coruche para Castelo de Vide, onde instalou um atelier/loja de artesanato, a maioria das peças que comercializava eram executadas por si.

Uma das áreas do artesanato a que mais se dedicou foi a tecelagem, executando cortinados, toalhas, etc."

 

Fatela, Paulo – Mão com Alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche, edição Associação da Charneca Ribatejana, 2014, pág. 30.

 

 

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 Designação: Colete

Material: Linho com tela de cores e ráfia

Dimensão: 034m x 0.65m

Créditos fotográficos: Hélder Roque

 

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  Designação: Cortinado

Material: Linho 

Dimensão: 1.35m x 1.95m

Créditos fotográficos: Hélder Roque

 

Hoje reporto um esquiço biográfico de Maria Marques e foto de uma peça por ela produzida:

 

"Maria Augusta Marques (Maria Marques)

Nasceu em 1934, no Couço - Coruche. Aos dez anos de idade, depois de ter concluído a instrução primária, foi par Abrantes como aprendiz de tecedeira. Após terem sido adquiridos os conhecimentos básicos regressou ao Couço.  Por um conjunto de circunstâncias sociais da época foi obrigada a trabalhar no campo.

Maria Augusta casou-se e teve dois filhos. Só em 1986, através de um homem de cultura, o coucenses José Labaredas,  inicia a atividade na Câmara Municipal de Coruche produzindo peças de tear e dando formação nessa área."

Fatela, Paulo – Mão com Alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche, edição Associação da Charneca Ribatejana, 2014, pág. 28.

DSC04510.jpg

 

 Designação: Colcha

Material: Algodão 

Dimensão: 1.30m x 1.90m

Créditos fotográficos: Hélder Roque

 

FIOS - LINHO, ALGODÃO, LÃ E OUTROS

TECELAGEM

 

A tecelagem é milenar; acompanha o ser humano desde os primórdios da civilização. Está identificada com as próprias necessidades do Homem, de agasalho, de proteção e de expressão. São fibras de algodão, de lã, de linho, fiadas e tingidas por processos manuais, que nos teares, através das mãos do Artista, se unem em cores e formas.

É conhecida por ser uma das formas de artesanato mais antigo, ainda existente nos dias de hoje. Teve início no período neolítico, desenvolvendo-se ao redor do mundo, primeiramente no oriente com os chineses, hindus, egípcios. Na Europa com os gregos, romanos e a partir do século XIV com a Itália (veludos e brocados de Veneza, seda de Milão e Turim). Na França, no século XVI, com as tapeçarias Gobelin, Savonnerie. No século XIX a Inglaterra inventa o tear mecânico a vapor e a produção industrial em larga escala. Nas Américas, a tecelagem manual  começou nos Andes peruanos, com os aztecas. Teve nos povos indígenas os seus grandes artesãos nas três Américas.

Tecelagem é o ato de tecer, através do entrelaçamento de fios de trama (transversais) com fios de teia (longitudinais), formando tecidos. Os tecidos produzidos no processo de tecelagem são também conhecidos como tecidos planos ou de cala. Nos tecidos planos há somente duas posições possíveis para os fios de trama: ou ele passa por baixo ou passa por cima dos fios da teia.

A tecelagem propriamente dita pode ser resumida em três operações: abertura da cala: operação onde certos liços sobem e outros descem, para selecionar os fios da teia, formando duas mantas de fios, uma superior e outra inferior; inserção da trama; batida do pente.

O que determina os tipos de entrelaçamento do fio é o chamado debuxo e é realizado pela seleção dos fios da teia que sobem ou que descem para a formação da cala. Há três padrões (desenhos) básicos de tecidos: a tela (também conhecida por tafetá), a sarja e o cetim.

Fontes: http://tearnobrasil.blogspot.pt/, 09.09.2015; http://sobretecelagem.blogspot.pt/, 09.09.2015; http://conceitotear.blogspot.pt/, 09.09.2015

Ana Paiva

 

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Fotografia no âmbito do espaço malhas, projeto Envolvências locais, Bienal de Artes  Coruche 2015

artesã: Lourdes Sousa

Créditos totográficos: Paulo Fatela 

 

“Udir a tela, tecer a vida”, é o título do livro que Ana Maria Braga da Cruz, escreveu (1991) a propósito de alguns dos mais interessantes projetos de revitalização de artes têxteis e através desta atividade encontramos a história da comunidade que os originou, a história de um momento de encontro e descoberta, tal como diz Spohia de Mello Breyner “ Como se o tecedor a si próprio se tecesse.”

 

A cultura do linho tem tanto de fascinante como de complexa: da sementeira ao tear, doze fases completam o ciclo: semear, arrancar, ripar, enriar, secar, malhar, marcear ou moer, espadear, assedar, fiar, dobar e tecer.

 

A este ritual, junta-se um tear manual e a arte magistral do trabalhador, a arte feita sabedoria adquirida ao longo de gerações e enriquecida através dos tempos e felizmente preservada em aldeias e serras de Portugal.

Em Coruche, a memória leva-me a duas tecedeiras: Maria Augusta Marques e Maria de Lourdes Luís de Sousa.

 

Fatela, Paulo – Mão com Alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche, edição Associação da Charneca Ribatejana, 2014, pág. 53.

 

 

Ensalmo de Santa Luzia

Santa Luzia

Três filhas tinha.

Uma curava,

Outra desfazia,

Outra três novelos

Na mão trazia:

Um com que urdia,

Outro com que tecia,

Outro com que névoas,

Cataratas e belidas,

Unheiros e carnigões

Curava e desfazia,

E mais todo o mal

Que neste olho havia.

À milagrosa Santa Luzia,

Padre-Nosso e Ave-Maria.

 

Fonte: Etnografia Portuguesa, J. Leite de Vasconcellos, vol. 9, Lisboa: INCM, 1985, p. 482.

 

TEAR MANUAL

Ferramenta simples, que permite o entrelaçamento, de uma maneira ordenada, de dois conjuntos de fios, denominados trama e teia (ou urdume), formando, como resultado, uma malha denominada tecido (C).

Teia (A): é formada por um conjunto de fios tensos, paralelos e colocados previamente no sentido do comprimento do tear.

Trama (B): é o segundo conjunto de fios, passados no sentido transversal com auxílio de uma agulha, também denominada navete. A trama é passada entre os fios da teia, em movimentos de ida e volta, por uma abertura denominada cala. 

Pente (D): peça básica no tear pente-liço, que permite levantar e baixar alternadamente os fios da teia, para permitir a abertura da cala e posterior passagem da trama.

Cala (E): espaço entre os fios ímpares e pares da teia, por onde passa a navete com a trama (F).

A teia é colocada através do pente e os seus fios são mantidos com uma tensão constante. O movimento vertical do pente faz surgir a abertura denominada cala, por onde é passada a trama, sucessivamente de um lado para outro, entrelaçando-se desta maneira os dois conjuntos de fios.

 

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Estrutura de um tecido plano

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Pesos de tear do período romano encontrados no vale do Sorraia, presentes na exposição “Coruche: o Céu, a Terra e os Homens”, patente no Museu Municipal.

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