TECELAGEM
A tecelagem é milenar; acompanha o ser humano desde os primórdios da civilização. Está identificada com as próprias necessidades do Homem, de agasalho, de proteção e de expressão. São fibras de algodão, de lã, de linho, fiadas e tingidas por processos manuais, que nos teares, através das mãos do Artista, se unem em cores e formas.
É conhecida por ser uma das formas de artesanato mais antigo, ainda existente nos dias de hoje. Teve início no período neolítico, desenvolvendo-se ao redor do mundo, primeiramente no oriente com os chineses, hindus, egípcios. Na Europa com os gregos, romanos e a partir do século XIV com a Itália (veludos e brocados de Veneza, seda de Milão e Turim). Na França, no século XVI, com as tapeçarias Gobelin, Savonnerie. No século XIX a Inglaterra inventa o tear mecânico a vapor e a produção industrial em larga escala. Nas Américas, a tecelagem manual começou nos Andes peruanos, com os aztecas. Teve nos povos indígenas os seus grandes artesãos nas três Américas.
Tecelagem é o ato de tecer, através do entrelaçamento de fios de trama (transversais) com fios de teia (longitudinais), formando tecidos. Os tecidos produzidos no processo de tecelagem são também conhecidos como tecidos planos ou de cala. Nos tecidos planos há somente duas posições possíveis para os fios de trama: ou ele passa por baixo ou passa por cima dos fios da teia.
A tecelagem propriamente dita pode ser resumida em três operações: abertura da cala: operação onde certos liços sobem e outros descem, para selecionar os fios da teia, formando duas mantas de fios, uma superior e outra inferior; inserção da trama; batida do pente.
O que determina os tipos de entrelaçamento do fio é o chamado debuxo e é realizado pela seleção dos fios da teia que sobem ou que descem para a formação da cala. Há três padrões (desenhos) básicos de tecidos: a tela (também conhecida por tafetá), a sarja e o cetim.
Fontes: http://tearnobrasil.blogspot.pt/, 09.09.2015; http://sobretecelagem.blogspot.pt/, 09.09.2015; http://conceitotear.blogspot.pt/, 09.09.2015
Ana Paiva
Fotografia no âmbito do espaço malhas, projeto Envolvências locais, Bienal de Artes Coruche 2015
artesã: Lourdes Sousa
Créditos totográficos: Paulo Fatela
“Udir a tela, tecer a vida”, é o título do livro que Ana Maria Braga da Cruz, escreveu (1991) a propósito de alguns dos mais interessantes projetos de revitalização de artes têxteis e através desta atividade encontramos a história da comunidade que os originou, a história de um momento de encontro e descoberta, tal como diz Spohia de Mello Breyner “ Como se o tecedor a si próprio se tecesse.”
A cultura do linho tem tanto de fascinante como de complexa: da sementeira ao tear, doze fases completam o ciclo: semear, arrancar, ripar, enriar, secar, malhar, marcear ou moer, espadear, assedar, fiar, dobar e tecer.
A este ritual, junta-se um tear manual e a arte magistral do trabalhador, a arte feita sabedoria adquirida ao longo de gerações e enriquecida através dos tempos e felizmente preservada em aldeias e serras de Portugal.
Em Coruche, a memória leva-me a duas tecedeiras: Maria Augusta Marques e Maria de Lourdes Luís de Sousa.
Fatela, Paulo – Mão com Alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche, edição Associação da Charneca Ribatejana, 2014, pág. 53.
Ensalmo de Santa Luzia
Santa Luzia
Três filhas tinha.
Uma curava,
Outra desfazia,
Outra três novelos
Na mão trazia:
Um com que urdia,
Outro com que tecia,
Outro com que névoas,
Cataratas e belidas,
Unheiros e carnigões
Curava e desfazia,
E mais todo o mal
Que neste olho havia.
À milagrosa Santa Luzia,
Padre-Nosso e Ave-Maria.
Fonte: Etnografia Portuguesa, J. Leite de Vasconcellos, vol. 9, Lisboa: INCM, 1985, p. 482.
TEAR MANUAL
Ferramenta simples, que permite o entrelaçamento, de uma maneira ordenada, de dois conjuntos de fios, denominados trama e teia (ou urdume), formando, como resultado, uma malha denominada tecido (C).
Teia (A): é formada por um conjunto de fios tensos, paralelos e colocados previamente no sentido do comprimento do tear.
Trama (B): é o segundo conjunto de fios, passados no sentido transversal com auxílio de uma agulha, também denominada navete. A trama é passada entre os fios da teia, em movimentos de ida e volta, por uma abertura denominada cala.
Pente (D): peça básica no tear pente-liço, que permite levantar e baixar alternadamente os fios da teia, para permitir a abertura da cala e posterior passagem da trama.
Cala (E): espaço entre os fios ímpares e pares da teia, por onde passa a navete com a trama (F).
A teia é colocada através do pente e os seus fios são mantidos com uma tensão constante. O movimento vertical do pente faz surgir a abertura denominada cala, por onde é passada a trama, sucessivamente de um lado para outro, entrelaçando-se desta maneira os dois conjuntos de fios.
Estrutura de um tecido plano
Pesos de tear do período romano encontrados no vale do Sorraia, presentes na exposição “Coruche: o Céu, a Terra e os Homens”, patente no Museu Municipal.