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coruche à mão

preservar memória / criar valor

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FIOS - LINHO, ALGODÃO, LÃ E OUTROS

O cobertor de papa

 

O cobertor de papa era utilizado nos anos 20/40 pelos trabalhadores rurais para proteção do frio e da Chuva.

 

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Desenho de José Luiz Pereira

 

O cobertor de papa constitui o produto final de um longo processo, que carrega um entrelaçar de memórias, sejam elas as dos homens que os produziram, sejam as daqueles que, ao longo do tempo, os consumiram.

Feito em tear manual, o cobertor de papa serrana, habitualmente usado por pastores, é feito com lã churra de ovelha, uma lã mais grossa e comprida do que o habitual.

Também é conhecido por cobertor de pelo, manta lobeira, amarela e espanhola, podendo ser produzido numa só cor (branco, verde, vermelho, etc.), com a cor “barrenta” (branco e castanho), bordado a azul, verde e vermelho (destinado ao Minho e ao Norte do País) ou fabricado com tiras coloridas de castanho, amarelo, verde e  vermelho (típico da zona do Ribatejo).

Tosquiada a ovelha, a lã é levada para o “lavadouro” para ser lavada. Para que se possa tecer é preciso urdir a teia. Nesta operação utiliza-se o fio chamado barbim, que é montado no casal e depois na urdideira, em comprimento e número de fios necessários para tecer as pisas. A pessoa que urde marca na teia, a carvão, a medida dos cobertores. Urdida a teia, já designada de meias, é tirada e enrolada no órgão do tear manual. A nova teia é atada nos fios que sobram da teia anterior, passando os nós pelas liçeiras e pente.Tradicionalmente são os homens que tecem, ocupando-se as mulheres de encher as canelas e ajudar com a urdidura. Depois de tecida é cortada e levada para o pisão. A pisa é metida em água e batida pelos maços até ficar encorpada, mais forte e espessa. A meio da operação tira-se a pisa fora para se esticar e coloca-se, depois, novamente dentro do pisão. Terminado este trabalho passa-se para a percha para fazer o pelo. Quando o pelo está pronto,molha-se, vira-se a pisa e cortam-se os cobertores. Devido ao aperto e água os cobertores precisam enxugar e ser esticados. Este processo realiza-se ao ar livre, na râmbola. A râmbola é uma armação em ferro com picos nas extremidades, onde são presos os cobertores até secarem.

 

Fontes: http://www.eaomacainhas.com/index.html, 2015.05.10. http://aervilhacorderosa.com/2010/10/cobertores-de-papa/, 2015.07.07. http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=1070519, 2015.07.07.Reis, Maria do Céu Baía Oliveira - “Notas sobre o cobertor de papa de Maçainhas”, O Fio da Memória, 12, Guarda: Câmara Municipal, 2003.

 

Em 1901 Sebastião Henriques Simões estabeleceu-se em Coruche com os Armazéns Primavera, uma das maiores casas comerciais do Ribatejo. Tinha indústria de moagem e descasque de arroz, armazéns de mercearia e estabelecimentos de venda ao público. Os Armazéns Primavera exploravam os negócios de mercearias, adubos, combustíveis, petróleo, seguros, tabacos. Na loja havia secções de calçado, chapelaria, camisaria, louças, tecidos (sedas, algodões, lanifícios, malhas interiores e exteriores, mantas lobeiras e outras), alfaias agrícolas, móveis de ferro, esmaltes, colchões, torrefação de café [fonte: Heraldo Bento]

In, Brochura – Espaço Malhas – Bienal de Artes Plásticas - Envolvências Locais – 2015 - Paulo Fatela e Ana Paiva 

 

[PD] Heraldo Bento (20) [010.00859].jpg

 Foto arquivo CMC / Armazéns Primavera

 

Várias foram as casas comerciais em Coruche que venderam as mantas/cobertores de papa,  atualmente apenas em centros turísticos, nomeadamente nas lojas “A vida portuguesa” em Lisboa e Porto é possível encontrar estas peças. As mantas/cobertores de papa são ainda produzidas em Maçainhas pelo único tecelão dessa aldeia no distrito da Guarda. É muito interessante a filosofia subjacente ao negócio da empresa “A vida portuguesa” na perspetiva dar continuidade ao produto.