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coruche à mão

preservar memória / criar valor

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FIGURADO E OUTROS

Este post visa reportar alguns artesão que desenvolveram e/ou desenvolvem figurado com os mais diversos materiais.

 

Joaquim David Ferreira (Joaquim Ferreira)

Joaquim Ferreira nasceu em 1925, em Coruche.

As miniaturas que executou surgiram entre finais dos anos 80 e meados dos anos 90. Joaquim foi trabalhador rural durante a vida ativa. Quando se reformou, no final dos anos 80 dedicou-se à produção de miniaturas. Os materiais eram em madeira e cortiça; Custódia (esposa) apanhava na estrada essas matérias primas. As miniaturas foram totalmente construídas por Joaquim sendo que Custódia apenas ajudava em algumas pinturas que exigiam maior promenor. O autor ter-se-á inspirado nas suas vivências com especial incidência no seu trabalho, da habitação, da comensalidade e do lazer; cenas de carácter tauromáquico; aspetos da fauna. Não trabalhava sob encomenda, nem as raras vendas destas miniaturas se traduziam num complemento à reforma; fazia-as para passar o tempo. Ainda participou numa exposição na Praça da Liberdade, em Coruche, e, por diversas vezes, as exibiu à porta do Mercado Municipal.

Algumas peças de Joaquim fazem parte do acervo do Museu Municipal de Coruche.

Fonte: Fatela, Paulo – Mão com Alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche, edição Associação da Charneca Ribatejana, 2014, pàg 21

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 Autor: Joaquim Ferreira

Material: Madeira e cortiça

Dmensão: alt 0.20m, larg: 0.19m

Créditos fotográficos: Carlos Silva

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Autor: Joaquim Ferreira

Material: Madeira e cortiça

Dimensão: alt 0.22m, larg: 0.18m

Créditos fotográficos: Carlos Silva

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Autor: Joaquim Ferreira

Material: Madeira e cortiça

Dimensão: alt 0.20m, larg: 0.20m

Créditos fotográficos: Carlos Silva

 

REGISTOS RELIGIOSOS

A arte na religião e religião na arte

 

Aquando da preparação do livro Mãos com Alma – artes e ofícios tradicionais em Coruche, solicitei colaboração ao meu amigo Pde João Luís Silva para que produzisse um texto sobre Registos Religiosos, este por sua vez,  endereçou o convite a um seu amigo.

Mais uma vez para introduzir esta temática publico o texto, muito bem articulado, de Armindo Rodrigues, amigo do Pde João Luís.

 

“É costume, na tradição popular, numa peregrinação a um santuário ou numa outra festividade de um santo patrono oferecer uma esmola no local e em retribuição receber-se um santinho ou pagela, marcando a presença da pessoa pela posse de um objeto evocativo. É certo que alguns desses santinhos serviam, e servem, muitas vezes para marcar a página de um livro de oração, a Bíblia ou outro livro quer de teor religioso ou não. As pagelas tornam-se registos de uma passagem, são marca de uma presença, trazem à memória o local, recorda a festividade religiosa.

Momentos especiais da vida também são marcados com um registo, como por exemplo quando se oferece santinhos ou pagelas para lembrar o Batismo, a Profissão de Fé, a Primeira Comunhão ou outros eventos Religiosos. Sendo assim, os “Registos” podem ser considerados como Memórias.

A devoção pelo santo protetor e para relembrar o dia festivo do mesmo os “Registos” assumem uma função evocativa de uma manifestação de fé. Adquirem assim, mais do que sendo objetivos decorativos, são objetos de oração dos fiéis. A designação de “Registo” engloba imagens religiosas gravados em madeira, cobre, ou pintados sobre pergaminho, tecido ou papel impresso. Os mais comuns são estampas impressas inseridas numa caixa-moldura cuidadosamente decorada com fios de seda, flores de papel ou tecido, mais simples ou mais elaborados com aplicações de material mais precioso.

Funcionando assim como símbolos de proteção, os Registos de Santos começaram a ser conhecidos em Portugal, sobretudo em meados do séculos XVIII. Independentemente das suas dimensões, inicialmente começaram a ser conhecidos por “bentinhos”, designação inicial que abrange saquinhos de pano, que se usavam ao pescoço por debaixo da camisa, contendo papéis com orações, relíquias , gravuras de santos  ou outros objetos de devoção. Com o incremento da atividade e do comércio de gravuras e estampas, a arte dos registos terá tido origem nos conventos das irmãs religiosas que emolduravam as tais estampas enriquecendo-as com adornos e tecidos raros que sobravam dos paramentos litúrgicos que fabricavam. A arte dos “Registos” tornou-se num símbolo de devoção que passou a decorar piedosamente os oratórios e a povoar as paredes das casas; e de proteção num sentido mais profundamente religioso, como por exemplo, mandado benzer e colocado junto a um doente no seu leito.

Na atualidade, os registos continuam a ter um cariz essencialmente devocional, mas possuem um caráter decorativo bastante marcado. Existem aqueles que procuram recriar os registos antigos  utilizando gravuras antigas ou imitação e tecidos nobres como brocados e outros, normalmente tecidos que se utilizam em paramenterias . E existem outros registos que procuram dar um ar mais contemporâneo, utilizando figuras impressas mais recentes e tecidos mais simples.”

Armindo Rodrigues

 

Temos em Coruche algumas artesãs no âmbito da produção de Registos Religiosos, contudo neste primeiro post faço somente referência a Emília Semedo.

  

“Emília da Conceição Ambrósio Semedo (Emília Semedo), nasceu em 1937, em Arraiolos.

Viveu até aos seis anos de idade em Arraiolos, depois no Peso, sendo que aos dezasseis anos veio para Coruche.

Com quatro anos de idade fez um pequeno saco (taleigo) tendo essa peça deixado a sua avó maravilhada.

Quando foi viver para o peso, as férias eram passadas em casa da avó em Arraiolos. A avó percebeu o seu talento para trabalhos manuais e colocou-a em casa de uma senhora onde aprendeu a bordar, desenvolvendo assim o gosto pelos bordados, que passam pelo ponto de Arraiolos, ponto-pé-de-flor, até ao ponto chileno.

Sentia as suas capacidades para trabalhos de mãos.

Executou peças (diversas) nomeadamente utilizando folha de estanho, até ao dia em que uma tia lhe ofereceu um oratório, o qual possuía alguns registos que necessitavam de recuperação.

Assim começou a sua paixão pela execução de registos, na medida em que decidiu recuperar os herdados.

Os seu registos têm como referência peças antigas, no entanto procura inovar, utilizando sempre materiais nobres, como por exemplo a serrrilha de ouro ou prata, sedas naturais e aplica a aprendizagem que fez nas férias passadas em Arraiolos, ou seja, muitos dos seus registos são bordados, tornando-se peças únicas e de coleção.

Toda a construção do registo é executada por si, o “esqueleto”, o enchimento, literalmente tudo.

A atividade na área de registo começou há cerca de vinte (20) anos em 1990, tendo produzido e recuperado imensos e forneceu alguns ensinamentos a duas coruchenses, Olga Paz e Lubélia Raposo.

Uma parte da produção faz parte do seu espólio, sendo que a outra é destinada à comercialização em Fátima e em Ponte de Sôr, quase sempre adquiridos por colecionadores e/ou entendidos nesta matéria.

Por obra do acaso, cruzou-se num antiquário em Lisboa, aquando da compra de imagens para execução de Registos, com um advogado de Santarém, Dr. Joaquim Martinho da Silva, o qual sem conhecer o seu trabalho lhe pediu para fazer um registo. Quando este lhe foi entregue, convidou-a a participar numa exposição, em Santarém.

Assim, pela primeira vez, no ano de 2000 (de 14 a 26 de Abril), em Santarém, algumas das suas peças puderam ser contempladas pelo público em geral.

Nunca sentiu necessidade de fazer grande divulgação das suas peças, porque sabe que aqueles que as adquirem sentem a alma que estas contêm.

Emília Semedo,  borda de forma exemplar, e conta com humor que num espaço, em Ponte de Sôr, onde comercializa os seus registos, reponde àqueles que a interrogam sobre a autoria das peças, que estas são executadas por freiras, ou seja, é entendimento que só alguém com muita tranquilidade e entrega consegue produzir com tanto rigor e qualidade, características normalmente atribuídas a religiosas.

Emília Semedo emociona-se quando fala de Nª Srª do Almortão de Idanha-a-Nova, foi convidada a bordar várias vezes, sendo que o desafio para além de bordar foi de o desenho, cujo mote era “flores do campo”. Aceite o convite,  desenhou e bordou de tal forma apaixonada que o Monsenhor fez questão de em público beijar as suas mãos por considerar o resultado do seu trabalho e a sua capacidade eximias, referindo “… as suas mãos são obra de Deus”.”

Fatela, Paulo – Mão com Alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche, edição Associação da Charneca Ribatejana, 2014, pág. 17 e 18.

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 Titulo: "Santissima virgem (estampa rendilhada antiga - 1901)"

Material: damasco natural, bordado com seda, lantejoulas, fio de ouro, canutilho de ouro e galão dourado

Dimensão: alt. 0,35m x larg. 0,22m

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 Titulo: "Santo Ambrósio (estampa atribuida ao séc. XVII)"

Material: damasco de algodão, bordado com seda, lantejoulas, fio de ouro, canutilho de ouro e galão dourado

Dimensão: alt. 0,37m x larg. 0,22m

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 Titulo: "Santa Emília, virgem mártir (Estampa aguarelada atribuida ao séc. XVII) "

Material: Imagem circundada por flores em serrilha de patra sobre damasco natural, bordado com  lantejoulas, fio de ouro, canutilho de ouro e pedras, recupredas de uma peça antiga

Dimensão: alt. 0,37m x larg. 0,24m

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 Titulo: "Santa Ana e Nª Srª encimadas por anjos"

Material: damasco natural, bordado com seda, lantejoulas, fio de ouro, canutilho de ouro e galão dourado

Dimensão: alt. 0,26m x larg. 0,21m

 

Créditos fotográfico: Carlos M. Silva

 

Hoje o enfoque vai para Olga Paz, uma artesã que produz Registos Religiosos:

 

Olga Maria Alves da Silva Paz (Olga Paz), nasceu em 1928, em Coruche.

Foi costureira uma vida inteira.

Em 1986 decidiu aplicar alguns dos seu conhecimentos profissionais e formação prestada por Emília Semedo para produzir Registos. Pediram-lhe, pois, que recuperasse um Registo, desafio que aceitou sobretudo pela minúcia que este tipo de peças exige e porque têm caris religioso.

Após a morte de um dos seus filhos a fé passou a ser ainda mais forte, uma forma de superar a dor.

Quase que materializou a fé nos Registos, e já são imensos os produzidos, sendo que o destaque vai para os bordados à mão e para as aplicações com recortes em papel (flores, pássaros, etc).

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 Titulo: "Crucefixo"

Material: Veludo verde, flores de papel e pérolas, galões

Dimensão: alt. 0,30m x larg. 0,23m

 

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  Titulo: "Cristo"

Material: tecido de gorgorão liso, bordado com fio dourado e missangas, galões dourados e cordão

Dimensão: alt. 0,20m x larg. 0,23m

 

Créditos fotográfico: Carlos M. Silva

 

MADEIRAS - MARCENARIA, CARPINTARIA, RESTAURO

MARCENEIROS

13100719_1157894160888310_4470115101206641760_n.jpCréditos fotográficos: José Cordeiro

 

Esquisso biográfico

 

Guilherme Manaia nasceu em 1914, em Coruche.

Muito novo, com onze anos de idade, iniciou a sua atividade profissional como aprendiz de carpinteiro, com o pai, que já era profissional de carpintaria.

Sempre desejou fazer móveis. Quando casou comprou madeira exótica (Andibora), a mais económica, pediu ao melhor profissional do concelho de Coruche e seu amigo, José Luís Pereira, que lhe facultasse alguns ensinamentos. Desta forma começou a realizar o seu sonho. Instalou-se num barracão cedido pelo sr. João Lopes de Carvalho e começou a copiar móveis que reparava; era , pois necessário trabalhar muitas horas diárias.

Ganhou experiência e empiricamente desenvolveu a sua atividade de marceneiro e entalhador.

Algumas peças (móveis) foram executadas propositadamente para os netos, as quais deixou como herança.

Em 1997 a convite do CEARTE deu formação em Coruche, na área de execução de algumas peças de mobiliário tradicional, empalhamentos em “palhinha inglesa”, restauro pintura de móveis. O empenho de Guilherme Manais deu frutos, algumas pessoas que frequentaram a formação optaram por desenvolver atividade nessa área.

 

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Designação: Meia cómoda

Material: Raiz de mogno

Dimensão: comp. 0,86m x alt. 0,86m x larg. 0,45m

Créditos fotográficos: Carlos M. Silva

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 Designação: Mesa de jogo

Material: Pau santo com embutidos em pau cetim e rosa

Dimensão: comp. 0,86m x alt. 0,77m x larg. 0,88m

Créditos fotográficos: Carlos M. Silva

 

Fatela, Paulo – Mão com Alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche, edição Associação da Charneca Ribatejana, 2014, pág. 19, 160, 161.

 

 

 

 

FIOS - LINHO, ALGODÃO, LÃ e OUTROS

TRAJES

No sentido de dar continuidade ao post sobre trajes tradicionais, publico mais uma fotografia, na circunstância um vestido de noiva, anos 30.

Trata-se de um vestido cujo tecido é "marrocan de lã" bordado com missangas, esta peça foi executada em ateliers do CRIC, tendo como formadora Joaquina Mendanha. 

A fotografia foi produzida no âmbito do livro Mãos com alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche.

PICT0007.JPGCréditos fotográficos: Carlos M. Silva

Modelo: Teresa Neves

 

in: Fatela, Paulo – Mãos com Alma: artes e ofícios tradicionais em Coruche, Associação para a Promoção Rural da Charneca Ribatejana, 2014, p 89.