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coruche à mão

preservar memória / criar valor

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FIBRAS VEGETAIS - CESTARIA, EMPALHAMENTOS

Fibras vegetais

Salgueiro, chorão, sinceiro e vimeiro são os nomes comuns das plantas do género Salix, da família Salicaceae, que existem geralmente em solos húmidos.

As margens do nosso rio Sorraia são lugar de predominância destas espécies. A "verga"  que provem do salgueiro é uma das matérias-primas dos cesteiros.

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 Salgueiro / rio Sorraia - jusante da ponte da escusa - Créditos fotogáficos - Paulo Fatela

 

O rio Sorraia

O Sorraia é um rio que nasce na freguesia do Couço, concelho de Coruche, e resulta da junção de duas ribeiras, a ribeira de Sor e a ribeira do Raia. É um afluente do Tejo e recebe várias ribeiras ao longo do seu curso, nomeadamente as ribeiras de Erra e Divor.

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Foto - arquivo Câmara Municipal de Coruche

Ao longo dos tempos o rio Sorraia teve um papel vital para a região e, segundo registos históricos, já romanos e árabes aqui se fixaram, usufruindo dele no campo agrícola e como meio de comunicação, para exportar os produtos cultivados no vale do Sorraia, onde desenvolveram engenhosos sistemas de irrigação que chegaram aos nossos dias. Foi navegável, tendo tido expressão o tráfego fluvial de escoamento de produtos agrícolas e florestais, nomeadamente cortiça, madeiras e cereais. Era, também, no rio Sorraia que nos anos 20/60 as mulheres lavavam a roupa do seu quotidiano, desenvolvendo algumas essa atividade como profissão. 

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 Foto - arquivo Câmara Municipal de Coruche

 

O rio deixou há já algumas décadas de ser um local onde se lava a “roupa suja”, contudo ainda é corrente a roupa ser colocada a enxugar na frente das moradias.

 

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 Créditos fotográficos - Fernando Marques

 

Na segunda metade do século XX foi posto em ação o Plano de Irrigação do Vale do Sorraia, através da construção das barragens de Montargil e Maranhão, juntamente com o Canal do Sorraia. Visou um melhor aproveitamento dos recursos hídricos, para potenciar o rendimento agrícola da região, propósito que foi alcançado.

 

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  Foto - arquivo Câmara Municipal de Coruche

Existem várias espécies piscícolas, nomeadamente bogas, carpas, barbos e bordalos, tendo-se desenvolvido em toda a zona a pesca artesanal de rio. O rio Sorraia tornou-se num local privilegiado para a prática da pesca desportiva. Sendo considerado um dos melhores pesqueiros nacionais, realizaram-se  diversos campeonatos do mundo de pesca desportiva. Para além da pesca desportiva é utilizado na prática de outros desportos, nomeadamente canoagem e natação.

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 Créditos fotográficos - João Dinis

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  Fotos - arquivo Câmara Municipal de Coruche

  

Fontes: BENTO, Heraldo - O Sorraia e Coruche, Câmara Municipal de Coruche, 2002; Museu Municicipal de Coruche - Vagas Leves - Rostos do Rio, catálogo - 2003;   https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Sorraia ; https://pt.wikipedia.org/wiki/Vime

 

Heraldo Bento é o autor do livro “ O Sorraia e Coruche”, onde reporta a sua vivência e conhecimento empírico do rio, também o Museu Municipal de Coruche,  em 2003, proporcionou uma exposição  com o tema “Vagas Leves – Rostos do Rio” e publicou  o respetivo catálogo.

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 Créditos fotogáficos - Paulo Fatela

 

Vime (latim: Vimen)

Vime é um material utilizado desde tempos primitivos, originalmente oriundo de varas moles e flexíveis do vimeiro e que passou a designar qualquer matéria-prima de origem vegetal com tais características e que, trançado, possui diversos usos, principalmente na produção de cestos e móveis.

Fonte:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Vime

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 Créditos fotogáficos - Paulo Fatela

 

Os últimos cesteiros de Coruche

Já são poucos os cesteiros em Coruche. Estão referenciados no livro “Mãos com Alma: artes e ofícios em Coruche”. São três os artesãos que ainda estão no ativo:

 

António Lourenço da Silva (António Lourenço) nasceu no ano de 1950, natural de Montargil, instalou-se em Coruche desde 1974.

O jeito para trabalhar a madeira e fibras naturais vem de família. Começou por brincadeira a fazer bancos, cadeiras e outros objetos para o lar. As primeiras peças de mobiliário foram expostas no antigo café Coruja, CORART – 1.º Salão de Artesanato da Freguesia de Coruche. Em 2002, por desafio de Paulo Fatela, integrou um grupo de pessoas interessadas em artesanato, tendo assim sido um dos membros fundadores da CORART- Associação de Artesanato de Coruche. Ao longo do seu percurso tem participado em várias feiras de âmbito nacional. Desde 1974 que faz do artesanato a sua atividade principal, habilitando-o para tal a Carta Nacional para a Promoção dos Ofícios e das Microempresas de Artesanato, emitida em 24/03/2007. António Lourenço é cesteiro, empalhador e marceneiro.”

 

Cícero António Luís (Cícero Luís) nasceu em 1932, no Monte do Pinheiro – Couço. Fez a 4.ª classe em Coruche, naquele que seria um período de intensas dificuldades, em virtude da segunda guerra mundial.

Após o exame da 4.ª classe foi guardar vacas, atividade que teve durante três anos; depois passou a trabalhar para uma casa agrícola (família Mexia).

Foi na casa agrícola, em 1946, que teve contacto com a cestaria, pois via os colegas fazerem vários tipos de cestos, peças úteis para a atividade agrícola.

Passou a colher a verga e a executar todos os processos até ficar em boas condições de moldagem. Houve um interregno, de alguns anos, no percurso de cesteiro; fez a tropa e desenvolveu outras atividades profissionais (motorista, barbeiro…), ao mesmo tempo que adquiriu o gosto por outras coisas, nomeadamente canções – de cantar e de colecionar letras; por isso reúne canções desde 1940.

Em 1998, após a reforma, retomou a atividade de cestaria, fazendo variadíssimos cestos para diversas utilizações.”

 

Joaquim Garcia nasceu em 1955, no concelho de Almeirim. Iniciou a sua atividade de cesteiro aos onze anos, tendo frequentado para o efeito uma escola de artesanato em Coina. Durante muito tempo executou cestos que eram comprados para revenda. Com o decorrer do tempo a realidade foi alterada e a concorrência da indústria chinesa modificou significativamente a situação.

Em 1988 instalou-se em Santa Justa, na freguesia do Couço. Não obstante as adversidades, como seja a falta de apoios, continua na cestaria, mantendo a tradição familiar ao mesmo tempo que a recolha da matéria prima lhe permite um agradável e já necessário contacto com a natureza.”

In Fatela, Paulo – Mãos com Alma: artes e ofício tradicionais em Coruche, edição Associação para a Promoção Rural da Charneca Ribatejana, 2014, págs. 13, 15 e 22.

 

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  Créditos fotogáficos - Hélder Roque

 

Nota: Em breve um passo a passo de produção de cestos e imagens sobre a diversidade destes, bem como a sua função na atualidade.

 

Revisão: Ana Paiva

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