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coruche à mão

preservar memória / criar valor

coruche à mão

preservar memória / criar valor

GASTRONOMIA

ARROZ

 (Oryza sativa), planta da família das gramíneas

 

Este é o primeiro post no Coruche à Mão sobre gastronomia. O ponto de partida é o livro “Coruche à mesa e outros manjares”, de José Labaredas, o enfoque vai para o arroz, como produto de excelência do Vale do Sorraia e a proposta de confeção é o tradicional “arroz doce”.

Apesar de não ser apreciador de arroz doce, este remete-me para a minha infância. Quando é confecionado há sempre alguém, sobretudo os mais novos, que se lambuza a rapar o tacho, memórias...

A simplicidade da confeção e o baixo custo da receita fazem desta sobremesa uma delícia desejada por quase todos (eu sou exceção).

Existem diversas receitas, com uma ou outra variante. Aquela que aqui reporto faz parte do receituário do livro “Coruche à mesa e outros manjares”, de José Labaredas.

 

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 Créditos fotográficos: Paulo Fatela 

 

Contudo, e a anteceder a descrição da receita e proposta de dinâmica, importa fazer aqui uma, pequena, contextualização histórica:

O arroz pode ter sido introduzido entre nós pelos árabes, no século VIII. Não são conhecidas notícias da sua cultura antes da formação da nossa nacionalidade nem durante a sua conciliação; o primeiro testemunho surge-nos tardiamente, em 1650, na obra de Frei Francisco Brandão, “Monarquia Lusitana”, em que se afirma já existirem arrozais no reinado de D. Dinis (1279-1325).

O Vale do Sorraia prefigurou-se até ao fim dos anos 70 como a maior reserva orizícola do país.

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 Fotos: Arquivo da Câmara Municipal de Coruche

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Créditos fotográficos: http://www.arrozgarcabranca.pt)

 

Receita:

“2 litros de leite, 1 chávena de chá de arroz, 1 colher de sopa de manteiga, 1 pitada de sal, 150/175g de açúcar, canela e cascas de limão ou laranja.

Num tacho deita-se o leite com uns paus de canela e as cascas de limão ou laranja e uma pitada de sal (que vai espevitar todo o sabor), e deixa-se abrir fervura e ferver um pouco para se impregnar dos sabores da canela e das cascas dos citrinos.

Deita-se depois o arroz, que se vai cozendo em lume muito brando. Quando o arroz estiver quase cozido, deita-se o açúcar e a colher de manteiga. Polvilha-se com canela em pó, depois de vertido nos recipientes.

Nota: No concelho, o arroz-doce confeciona-se da mesma maneira que um pouco por todo o país, não se empregando porém, aqui, gemas de ovo na sua confeção. Nos tempos de carestia, confecionava-se com água e muito pouco leite ou nenhum, pelo que o arroz, pouco depois de estar confecionado, endurecia bastante.”

in Labaredas, José – Coruche à mesa e outros manjares, Lisboa: Assírio e Alvim, 1999, p. 260.

 

A propósito do autor do livro visado transcrevo, aqui, uma nota biográfica:

“Labaredas, José Pinto Ribeiro, nasceu na vila do Couço a 12 de janeiro de 1946 e faleceu a 8 de Abril de 2000, em Lisboa. Paixão é talvez a palavra mais correta para caraterizar todo o empenho empreendido na feitura das suas pesquisas relacionadas com a arte Gastronómica. Desde muito jovem que o teatro, a música, bem como outras atividades de índole cultural, começaram a fazer parte da sua vivência diária, amadurecidas e refinadas posteriormente com a passagem pela vida académica em Coimbra. Grande admirador e entusiasta do tango, chegando inclusive a participar num programa de televisão, na Argentina, com Carlos do Carmo, e na RTP, sobre o referido género musical. Gravou discos de fado, foi colaborador em diversas publicações, destacando-se o Jornal de Letras, foi o principal impulsionador das Jornadas de Gastronomia em Coruche e, para além de outros escritos, deixou a obra sublime Coruche à mesa e outros manjares, que retrata com mestria todo o património gastronómico de um região que lhe serviu de berço.”

in: Escritos e escritores: brochura, Biblioteca Municipal de Coruche

 

Dinâmica:

Partilhar neste post receitas de arroz-doce e fotografias do resultado final.

Eleger o prato de arroz-doce mais criativo.

Enviar para o e-mail: paulo.fatela@sapo.pt, no prazo de um mês, contado a partir da data deste post, as receitas e/ou fotografias desta famosa sobremesa.

Talvez esta dinâmica dê lugar a um encontro coletivo para a devida degustação...

 

Como nota, Coruche; à data tem três das grandes indústrias arrozeiras responsáveis por uma quota significativa do mercado nacional, são elas:

Arrozeiras Mundiarroz, S.A. - marca Cigala;

Atlantic Meals, Industria e Comércio Agro Alimentar, S.A. - marca Ceifeira;

Cecílio – S.A. -  marca Arroz d´Avó.

 

Revisão: Ana Paiva

 

03/02/2016 

 

Atividade nos canteiros de arroz - Vale do Sorraia (1920/40)

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 Fotos: Arquivo Câmara Municipal de Coruche

As fotografias ilustram a atividade nos canteiros de arroz e a vida dura das mulheres camponesas. Trabalhavam de sol a sol e,  para além da atividade laboral  acumulavam com a lida da casa, em exclusividade.

Estas mulheres não viviam, limitavam-se a existir...

 

FIOS - LINHO, ALGODÃO, LÃ e OUTROS

BORDADOS

O bordado é uma expressão de luxo e pode-se dizer que nasceu em grande parte do desejo de introduzir cor em objectos pessoais para serem usados em circunstâncias especiais, em peças de vestuário e para o lar, nomeadamente toalhas

Os bordados inspiram-se, pois em motivos quotidianos tradicionais e alguns elementos geométricos de interligação. Claro que há a interpretação pessoal da bordadeira dos seus sentimentos resultando daí alguns desenhos que são por ela criados de improviso em pontos como o "ponto cadeia", "ponto pé de flor", ponto grilhão", "ponto de cruz", entre outros.

 

Ponto- de- Cruz

De entre os vários pontos de bordados manuais tradicionais entre nós, o ponto de cruz é sem dúvida o ponto eleito, praticamente o exclusivo na decoração dos mapas/mostruários no século XIX.

Trata-se de um ponto em toda a Europa desde épocas remotas, de características geométricas, bastando cortar os fios para obter a execução perfeita. Não necessitando de grande tempo de aprendizagem nem de prática intensa, tornando-se acessível, mesmo àqueles que o tempo é escasso e não sobra para esmeros.

Em certas zonas  do país também é conhecido pelo ponto de marca, em várias terras do norte de Portugal. 

A par do ponto pé de flor era o ponto de iniciação à arte de bordar praticado por gerações de raparigas, ensinadas pelas mulheres mais velhas do agregado familiar.

in: Fatela, Paulo - Mãos com Alma, 2014como-fazer-ponto-cruz-1.jpg

Maria Marques, Docelina Cardoso, Manuela Paulos, Manuela Mesquita e Marlene Pereira são algumas das bordadeiras cuja sua vida profissional ou actividade paralela se desenvolve ou desenvolveu no âmbito dos bordados em ponto de cruz.

Manuela Mesquita tem um atelier de bordados, aberto ao público, centro comercial Horta da Nora - Rua de Olivença - Coruche.

Marlene Pereira é proprietária de uma retrosaria "Tradição da Vila" - Rua de S. Pedro - Coruche.

Maria Marques, faleceu.

Docelina Cardoso é utente do Centro de Dia da Fajarda.

Manuela Paulos deixou o seu hobby,  por dificuldades de visão.

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Créditos fotográficos: Paulo Fatela

È minha intensão publicar neste fórum um passo-a-passo de um bordado a ponto de cruz, numa peça com características tradicionais de Coruche. 

 

07/01/2016

 

Bordado de ponto de cruz / passo- a -passo

 

 Antes de bordar

Corte 40 a 45 cm de linha. Para saber quantos fios de linha usar, faça a relação: quanto mais quadradinhos a trama tiver por centímetro, menos fios são necessários. Entre com a agulha no direito do tecido, deixando uma ponta de 1 cm no avesso para prender nos pontos seguintes.

 

Como saber se o motivo vai caber no tecido?

Descubra o tamanho do gráfico em centímetros: divida o número de pontos do gráfico (largura e altura) pela quantidade de quadradinhos que tem 1 centímetro de tecido. Use uma régua para contar: gráfico de 20x40 pontos, bordado em quadrilé de 4 pontos por centímetro. 20:4=5 cm (largura) e 40:4= 10 cm (altura).

 

Carreira de ida

Entre um quadradinho acima e à direita e saia abaixo. Repita a operação até acabar a carreira da mesma cor.

 

Carreira de volta

Entre um quadradinho acima e à esquerda e saia abaixo. Volte completando os pontos da mesma cor.

 

Subida

Antes de completar a carreira, saia um quadrado acima. Entre com a agulha no quadrado inferior à esquerda e faça quantos pontos desejar. Volte completando a carreira superior e, no último ponto, saia um quadrado abaixo.

Complete a carreira inferior.

 

Descida

Depois de terminar uma carreira, saia com a agulha um quadrado abaixo. Verticalmente. Faça outra carreira com pontos de ida e volta.

 

Remate de avesso perfeito

Saia com a agulha no avesso e passe pelos últimos 5 pontos, por baixo e por cima. Não dê nós, para o avesso ficar limpo. Outra sugestão: passe a linha pelos últimos 5 pontos na parte da frente do bordado.

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QUADRILÉ

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    BASTIADOR

 

11/01/2016

 

Preparação do projeto...

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 Créditos Fotográficos: Paulo Fatela

A partir do bordado de ponto-de-cruz, primeira situação visada no “Coruche à Mão” e igualmente referenciada no livro “Mãos com Alma – artes e ofícios tradicionais em Coruche”, é intenção criar alguma dinâmica, em contexto virtual e/ou presencial, no sentido de preservar a tradição, reinventando-a.

Em 08/01/2016, via facebook, desafiei algumas amigas de Coruche, ou com ligação a Coruche, a colaborarem num projeto, sendo que não informei do âmbito deste.

A maioria das “notificadas” correspondeu à “provocação”, pelo que importa agora comunicar:

produzir peças úteis e/ou decorativas (t-shirts, malas, sacos, aventais, vestidos, camisas, capas para tablets, almofadas, taleigos, etc.) bordadas a ponto-de-cruz, com desenhos da minha autoria (iconografia de Coruche).

Quem tiver dificuldades poderá recorrer à Internet e/ou pedir esclarecimentos a outros; não esquecer que Manuela Mesquita, proprietária de um atelier de bordados – centro comercial Horta da Nora, na Rua de Olivença, Coruche –, entendida na matéria, estará disponível para esclarecer dúvidas e, no Coruche à Mão, há um passo-a-passo.

O prazo de execução será de três meses, contados a partir da publicação dos desenhos.

Terminadas as peças, deverão ser enviadas fotos para o e-mail: paulo.fatela@sapo.pt ou entregues pessoalmente, no sentido de serem publicadas no Coruche à Mão (uma vez na Internet, para sempre na Internet). A médio prazo as peças poderão integrar uma exposição com conteúdos do Coruche à Mão, em espaço físico.

É intenção, no processo de produção, efetuar alguns registos de imagens (fotografia e vídeo) e depoimentos, no sentido de recolher o “saber-fazer...”

MÃOS à obra minhas amigas, vamos manter vivo em Coruche o bordado de ponto-de-cruz, património que nos foi legado há séculos...

 

Como nota final gostaria de referir que, por mero acaso, vi um programa de TV (RTP2) que referenciava o ponto-de-cruz como um bordado esteticamente muito interessante e que acrescenta valor (produzido manualmente) às peças de criativos de vestuário (alta costura) e assessórios, nomeadamente a dupla Dolce & Gabbana.

 

Alguns exemplos:

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 Fotos - Fonte WEB

 

O 1º projeto  consiste numa coruja estilizada, elemento iconográfico de Coruche. A imagem já foi pintada por mim s/ vários materiais, agora é objetivo partilha-la por forma  a ser bordada em ponto-de-cruz.

O  gráfico foi desenhado à mão.

O cromático:

azul (Coruche);

azul (claro);

branco;

preto;

amarelo (ocre). 

O gráfico será enviado via facebook (msg privada).

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Créditos Fotográficos: Paulo Fatela

Mãos à obra... E não se esqueçam que temos por objetivo perservar memória ...

 

20/01/2016

 

O gráfico projetado à mão, deu lugar a um desenho técnico.  

 

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Desafio confirmado por:

Ana Maria Ribeiro; Ana Paiva; Clara Palminha; Clotilde Fatela; Carlota Branco; Docelina Cardoso; Eunice Silva; Fátima Esteves; Guilhermina Simões; Laura Vicente; Luísa Portugal; Luísa Serrão; Lurdes Martinho; Manuela Machado; Manuela Mesquita; Mariana Neves; Rosa Lagriminha; Tânia Prates; Vânia Cardoso.

 

Mãos à obra... E não se esqueçam que temos por objetivo perservar memória ...

 

 

25/01/2016

 

A propósito do fio de algodão utilizado no bordado de ponto-de-cruz:

 

ALGODÃO

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Fonte:  http://www.bolsademulher.com/medicina-alternativa/1934

 

O algodão provém de uma planta denominada algodoeiro. Conforme a variedade, pode ser uma árvore ou um arbusto, com folhas alternadas e que dão folhas amarelas ou vermelhas. A qualidade do algodão varia de acordo com o tipo de algodoeiro, pois umas variedades fornecem fibras mais compridas que outras.

O algodão é colhido quando os frutos amadurecerem e as cápsulas que envolvem as sementes se abrem, podendo então ser retirada a matéria fibrosa constituida de pelos que revestem as sementes.

Estas fibras brutas passam, como a lã, por uma série de operações preparatórias antes de serem transformadas em fios.

Fonte:Kippci, àquila - O algodão

http://tecelagemmanual.com.br/algodão.htm

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Fonte: http://www.bolsademulher.com/medicina-alternativa/1934