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coruche à mão

preservar memória / criar valor

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BARRO - OLARIA, CERÂMICA FIGURATIVA

Cerâmica Figurativa

Desde muito cedo a produção de cerâmica deu importância fundamental à estética, já que as peças na maioria das vezes destinavam-se ao comércio, com possível exceção do fabrico de tijolos e telhas, geralmente utilizados na construção civil desde a antiguidade na Mesopotâmia. Talvez por esta razão a maioria das culturas, acabou por desenvolver estilos próprios que com o passar do tempo consolidavam tendências e evoluíam no aprimoramento artístico, a ponto de se poder situar o estado cultural de uma civilização através do estudo dos artefactos cerâmicos que produzia.

 

Não tenho memória da existência de muitos artesãos em Coruche associados à cerâmica figurativa, a minha memória leva-me a José David Esteves, já referenciado neste blog, embora em outro âmbito, e José Tanganho.

Hoje publico neste fórum um esquiço biográfico do artesão e uma foto de um Santo António da sua autoria. 


Esquiço biográfico:

José Pirralho Tanganho (José Tanganho), nasceu em 1939 em Coruche.

O pai, Jerónimo António Tanganho, era barbeiro, comerciante, e dedicava-se também a pequenos negócios, entre eles a produção de tijolo cerâmico, motivo pelo qual desde muito cedo José Tanganho começou a brincar com barro. Em criança as imagens do seu presépio eram feitas por si e colocadas na barbearia do pai. 

Quando completou 11 anos foi trabalhar no comércio. Diz ter-se esquecido por completo do barro. Viveu na Bélgica de 1968 a 1998, teve dois filhos.

Em 1999 regressou definitivamente  a Portugal, reencontrou um amigo com o qual tinha cumprido o serviço militar em Angola. Foi numa visita a casa do amigo e companheiro de “guerra”  que descobriu que este, para além de poeta, também era pintor e fazia modelagem de barro, pediu-lhe que fizesse um  Santo António. O seu  amigo Diogo ofereceu-lhe então a peça solicitada, foi o despertar daquilo que durante 50 anos esteve adormecido. 

A imagem de Santo António foi inspiradora, pelo que começou a concebe-la  numa primeira  instância procurando o realismo e posteriormente de uma forma mais estilizada, sendo que também tem executa outras peças, nomeadamente: Sagrada Família, peregrino de S. Tiago de Compostela, rainha Santa Isabel, S. Francisco de Assis, S. Tomás, entre outras peças associadas ao sagrado. Começou por expor em Coruche,  nas festas da Nossa Senhora do Castelo, CORART – Associação de Artesanato de Coruche, Torres Novas, Porto de Mós, Salvatierra de los Barros – Espanha, Reguengos de Monsaraz. Têm peças em vários países.

José Tanganho elege a imagem de Santo António, porque foi a primeira peça que executou e por ser um Santo Popular do qual é devoto.

Possui carta de Artesão desde 03/03/2010.

Fonte: Fatela, Paulo – Mão com Alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche, edição Associação da Charneca Ribatejana, 2014, pág 25

IMG_0761.JPGTítulo: Santo António

Designação: Figurado

Material: Barro de cor branca e vermelha 

Dimensão: 0,48m x 0,10m 

Créditos Fotográficos: Paulo Fatela

 

 

 

 

 

 

GASTRONOMIA

Sabores de Natal

Estamo-nos a aproximar do 25 de dezembro, é tradicionalmente um dia santificado cristão, o Natal é amplamente celebrado, sendo que alguns de seus costumes populares e temas comemorativos têm origens pré-cristãs seculares. Os costumes típicos do feriado incluem a troca de presentes, a ceia, músicas, festas de igreja, refeições especiais, decorações diferentes, incluindo as árvores de Natal.  Na mesa  não podem faltam as filhós.

As filhós são uma tradição gastronómica da festividade do Natal, assim divulgo neste forum uma receita publicada no opúsculo Comeres de Coruche e outra no Coruche. Contudo lanço, também, o desafio os vários amigos para partilharem receitas.

 

"Filhós

Ingredientes:

Farinha q.b.

250 gr. de banha

6 ovos

Sumo de 3 laranjas

1 Cálice de aguardente

Sal (derretido em água)

Fermento de padeiro (15 gr)

 

Juntam-se todos os ingredientes e amassam-se muito bem.

Deixa-se levedar a massa durante algumas horas.

Estendem-se retângulos fininhos que se cortam com carretilha e se fritam, polvilhando depois com açúcar e canela."

 

in: “Comeres de Coruche”, Associação para o Estudo e Defesa do Património Cultural e Natural do Concelho de Coruche, 1993, pág. 44

 

003.JPGCréditos fotográficos: Paulo Fatela 

 

Receita  partilhada por Raquel Marques

 

"Filhós

 Ingredientes:

1 Kg de Farinha

Sumo de 4 Laranjas

4 ovos

250 de Banha

Aguardente

Fermento de Padeiro

1 pitada de Sal

1 pouco de água

 

Coloca-se a farinha num alguidar, abre-se um buraco no meio e juntam-se todos os ingredientes (a banha é derretida em banho Maria). Num púcaro mete-se a água o fermento e o sal e deixa-se amornar até derreter o fermento, depois amassa-se como se fosse pão. Deixa-se levedar até crescer. Estendem-se com o rolo da massa e fritam-se em óleo ou azeite bem quente. 

No final  polvilha-se de açúcar ou açúcar e canela conforme o gosto."

DSC09260 (1).JPGCréditos fotográficos: Tânia Prates

 

Receita partilhada por Céu B. Reis

 

"Filhós

 Ingredientes:

10 ovos

1kg de farinha sem fermento

Fermento de padeiro

1 copo de vinho de água quente para dissolver o fermento

2 chávena de chá de azeite quente

2 colheres de sopa de aguardente

Uma mão fechada de sal.Bom apetite!

Misturam-se todos os ingredientes com a colher de pau e amassam-se com a mão até esta descolar das mãos e do alguidar, sempre que seja necessário molhar as mãos em azeite. A massa finalizada quando formar bolhas. Fazem-se pequenas bolas na mão e tendem-se para fritar.

 

Nota: Eu deixo fintar a massa, normalmente a maioria das pessoas fazem-no até a massa duplicar."

 

"Azevias

 

Para a massa: farinha, banha, sal, sumo de laranja e um cálice de aguardente.

Para o recheio: grão-de-bico cozido com pele e ralado, mel, açúcar e raspa de limão.

Amassa-se muito bem a farinha com a banha, uma pitada de al, o sumo de laranja e o cálice de aguardente. Deixa-se a massa repousar durante algum tempo (uma hora).

Passa-se o grão-de-bico previamente cozido pelo passe-vite e depois juntam-se-lhe, misturando-os muito bem, todos os outros ingredientes e leva-se num tacho a lume brando até fazer ponto.

Estende-se a massa, corta-se com a carretilha em círculos, põe-se no meio de cada círculo um pedaço da espécie, tapa-se com a massa e fritam-se em bom azeite. Depois de fritas deixam-se a escorrer sobre papel pardo e quando estiverem sequinhas polvilham-se com açúcar e canela."

in Labaredas, José – Coruche à mesa e outros manjares, Lisboa: Assírio e Alvim, 1999, págs. 260 e 261. 

006.JPGCréditos fotográficos: Paulo Fatela

 

 

Receita partilhada por Maria Antónia:

 

 “Sonhos de cenoura

1 laranja

4 ovos

750 gr. de cenouras

125 gr. de farinha

70 gr. de açúcar

Uma pitada de sal

2 colheres de sopa de fermento em pó

 

Cozem-se as cenouras, deixam-se escorrer bem e trituram-se. Batem-se as claras em castelo. Envolvem-se todos os ingredientes. Com o auxilio de um colher doseam-se os sonhos que se fritam em óleo. Depois de fritos polvilham-se com açúcar e canela a gosto." 

Fotografia de Tânia Prates.JPG

 Créditos fotográficos: Tânia Prates

 

Receita partilhada por ML Mesquita:

"Filhós de Nata

 

Ingredientes:

1 pacote de natas pequeno

3 gemas

1colher de sopa de aguardente

400 grs de farinha

uma pitada de sal facultativo

 

Misturam todos os ingredientes, não precisam de.ser amassadas. Tendem-se as filhós com o rolo e de seguida fritam-se. São passadas por açúcar e canela.

Muito rápidas de fazer e a massa não precisa de descansar."

15621658_1902850746604674_5286228169462385934_n.jp Créditos fotográficos: ML Mesquita

 

Receita partilhada pelo amigo Fernando Serafim:

 

 

"Filhós da Avó

1Kg de farinha

6 ovos

Sumo de 4 laranjas

Banha 200 grs

1cálice de aguardente

Óleo q.b.

Fermento de padeiro 30 grs

Sal derretido em água morna

 

Esta receita é semelhante a outras do nosso concelho e já publicadas no teu blog tal como a que foi transcrita do “Comeres de Coruche”, publicação da Associação do Património.

 

Coloca-se num recipiente a farinha, onde se juntam os restantes ingredientes que depois de bem misturados e amassados vão fintar ou levedar por 4 ou 5 horas perto de uma fonte de calor.

Depois é só colocar pequenos pedaços de massa numa superfície plana, estendê-la com o respetivo rolo e cortá-la em pequenas e finas fatias retangulares que se põem a fritar em óleo bem quente.

Depois de fritas colocam-se num prato ou travessa cobertas com açúcar e canela a gosto. 

 

Bom apetite!"

200.jpgCréditos fotográficos: Paulo Fatela

 

 

 

 

 

BARRO - OLARIA, CERÂMICA FIGURATIVA

A memória de Maria de Jesus  Sousa Quintas, filha do oleiro António Cipriano Rodrigues Quintas, remete-nos para a olaria do seu bisavô: José Evaristo de Sousa, situada em Santo Antonino, o qual teria iniciado ativividade provavelmente em 1850.

José Evaristo de Sousa teve três filhos homens: Guilherme, José e António, que também lhe seguira o gosto pela olaria, tendo constituído as suas próprias oficinas, criando inclusive vários postos de trabalho.

As olarias de Guilherme e José desenvolveram-se, após as suas mortes. A olaria de António esteve em atividade durante décadas tendo sido vários os artesãos que por lá passaram: Afonso de Sousa; Manuel Maia; António Quintas; “Chico Doutor” (alcunha pelo facto de se vestir bem); João Mesquita; Américo; Amadeu; Canhoto (alcunha pelo facto de ser de Canha); Jacinto; José da Justa e outros.

As suas peças eram vendidas numa loja no Mercado Municipal de Coruche por Maria Guilhermina, mulher de António. As produções eram sobretudo peças úteis, alguidares usados nas matanças dos porcos ou também para lavar roupa, ânforas para armazenar alimentos constituem alguns exemplos.

A tradição das olarias em Coruche perdeu-se; o oleiro António Cipriano Rodrigues Quintas foi o último a desenvolver atividade profissional nessa área e apenas Afonso Sousa (reformado) até há pouco tempo produzia algumas peças para ocupar o seu tempo.

 

 Fonte: Fatela, Paulo – Mão com Alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche, edição Associação da Charneca Ribatejana, 2014, pág. 106

 

Publico algumas fotos de peças outrora produzias e esquiços biográficos dos seus autores, hoje o enfoque recai para Carlos Casimiro Marques e António Cipriano Rodrigues Quintas.

Carlos Casimiro Maques (Carlos Marques) nasceu em 1921, em Coruche. Iniciou a sua atividade numa olaria situada na Travessa Fonte do Grilo – Coruche, do “Carlos oleiro”. Mais tarde trabalhou numa olaria em Lavre, cerca de dois anos, sendo que regressa a Coruche e estabelece-se por conta própria, inclusivamente com um ponto de venda no Mercado de Coruche.

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Designação: Bilha para àgua

Material: Barro

Dimensão: o,29m x 0,19m

Créditos fotográficos: José Fatela 

 

António Cipriano Rodrigues Quintas (António Quintas) nasceu em 1926, em Marinhais.

Quintas começou como aprendiz de oleiro muito novo, logo após ter terminado a escola primária, tal como quase todos os da sua geração.

Aprendeu a profissão com o oleiro Barroca que era proprietário de uma oficina na Fajarda. Depois de casado e perto do nascimento da sua segunda filha decidiu trabalhar na olaria do sogro: António Evaristo de Sousa.

Após a morte do sogro, em 1974, passou a desenvolver atividade individualmente, tendo mais tarde aberto uma loja na travessa do Lagar em Coruche, para venda das suas peças, com a colaboração da sua mulher Laurinda Quintas. Comercializava as peças na tradicional Feira de São Miguel em Coruche, teve inúmeras participações nas Festas em honra de Nª Sr.ª do Castelo (exposições e cortejo etnográfico), colaborou com as escolas do ensino básico sob forma de permitir visitas à sua olaria e dando informações aos alunos e professores.

As mostras das suas peças não aconteceram somente a nível de Coruche, mas também um pouco por todo o país.

Em 1999 Quintas foi convidado pela Câmara Municipal Coruche a ocupar um atelier no Museu Municipal, e ai desenvolver ativiade permitindo dessa forma o desenvolvimento de atividades pedagógicas.

5c.jpg

 

Designação: Saladeiras

Material: Barro vidrado

Dimensão: Diâmetro - 0,32m, 0,27, 0,20m

 Créditos fotográficos: Nuno Capaz

 

Fonte: Fatela, Paulo – Mão com Alma, artes e ofícios tradicionais em Coruche, edição Associação da Charneca Ribatejana, 2014, págs 12 e 15